sábado, 11 de abril de 2009

O Manuseio de sua cobra

Para quem não tem muito tempo livre e/ou espaço, gosta de manter a casa arrumada e livre de pêlos e maus cheiros, e tem de se ausentar frequentemente por pequenos períodos de tempo, uma cobra é um excelente animal de estimação.
Adapta-se perfeitamente, não dá muito trabalho e é económico. No entanto, e apesar de ser mais um animal de contemplação do que de companhia e não necessitar obrigatoriamente de atenção diária, continua a ser um ser vivo e não uma peça decorativa. Manter e cuidar de uma cobra envolve muito mais do que dar-lhe as condições adequadas e alimento.
Quem tem uma cobra, tem obrigatoriamente de lidar com ela, e isto não deve ser só aquando dos realojamentos temporários para limpar o terrário, ou para verificar o seu estado de saúde. Uma cobra deve ser manuseada regularmente para que se habitue e tolere esta prática sem stressar ou reagir de forma agressiva, caso contrário, as tarefas de manutenção podem-se tornar num pesadelo para ambos.

Pegar e manusear uma cobra não tem muito que saber, mas algumas precauções são necessárias e nem todas as cobras toleram ou estão habituadas a isso. Na natureza, geralmente quando uma cobra é importunada, agarrada ou levantada do chão é porque está prestes a ser o jantar de um predador, logo, o primeiro instinto nessas circunstâncias é o de se defender. Quando uma cobra não consegue fugir nem se esconder e quer ser deixada em paz, mostra-o da melhor maneira que sabe: abana a ponta da cauda, eleva o corpo parecendo maior e assumindo uma posição em forma de “S”, pode soprar e mesmo tentar morder. Algumas espécies libertam um odor desagradável e chegam mesmo a defecar no “agressor”.

A maioria das cobras nascidas e criadas em cativeiro são bastante dóceis e fáceis de lidar. Claro que existem excepções, e os temperamentos variam um pouco de espécie para espécie. Os indivíduos mais jovens tendem a ter temperamentos mais voláteis, mas mesmo uma cobra adulta calma e habituada a ser manuseada pode ter os seus dias de “mau humor” e não gostar que lhe peguem. Isto acontece frequentemente na altura da muda da pele. Não é preciso lembrar que uma cobra, apesar de não ter membros, tem boca e portanto é natural que possa morder tal como um cão ou um gato, a diferença está que a mordida do cão costuma ser muito pior do que a da cobra (tratando-se de um colubrídeo não venenoso claro).

As cobras mais jovens costumam morder frequentemente, ou por insegurança ou porque o instinto lhes diz para morder tudo o que se mexa. Algumas rapidamente aprendem a distinguir o alimento da mão do dono, e que nós não somos ameaça, outras no entanto, aprendem mais lentamente, tornando o processo de habituação/domesticação mais longo e penoso, mas bastante recompensador. É mais fácil tolerar os efeitos de uma cobra que mal tem dentes, a deixar que cresça hostil em relação ao manuseamento tornando-se num problema quando adulta. Evidentemente que é desagradável lidar com uma cobra agressiva, por mais pequena que seja, no entanto, é preferível sofrer alguns danos superficiais (a maioria das dentadas de uma cobra jovem são praticamente indolores, pois os seus dentes pequenos mal penetram na pele), ter um pouco de paciência e ser persistente nesta altura para evitar situações desagradáveis um dia mais tarde, quando esta for adulta.

É preciso ter em mente que apesar de algumas cobras não se importarem de ser pegadas, e podem sê-lo com a regularidade que o dono quiser, existem outras que, pelo contrário, são mais nervosas, e ficam demasiado stressadas com manuseamento frequente, podendo mesmo deixar de comer ou até adoecer. Nestes casos convém manuseá-las o mínimo para evitar problemas. É muito importante lavar as mãos antes e depois de mexer na cobra. Depois parece óbvio, mas antes também, por motivos semelhantes. Nós podemos transmitir mais problemas ás nossas cobras do que elas a nós. Sendo animais bastante sensíveis, os químicos presentes em produtos usados no dia-a-dia, desde cremes a detergentes, podem ser nocivos. Também não é boa ideia manusear a cobra se se esteve previamente a mexer em roedores, aves ou algo que esta possa considerar como alimento.

Por fim, nunca é demais frisar que quem pensa em comprar uma cobra para expor e causar sensação entre amigos, colegas, familiares, etc.. está a faze-lo pelos motivos errados. Uma cobra que não esteja habituada ao contacto humano torna-se agressiva, reforçando a má fama que as cobras têm em geral, quando na verdade não tem de ser necessariamente assim. Quanto mais tempo fica sem ser manuseada, mais agressiva e esquiva se torna. Quando mais difícil de lidar é uma cobra, menos paciência o dono tem com ela, e menos tempo lhe dedica, consequentemente tornando-a ainda mais hostil ao contacto humano e por ai adiante. Mais uma vez, paciência e dedicação são conceitos chave se o objectivo é uma relação amistosa.

FONTE: http://www.colubridae.net/index.php?option=com_content&view=article&id=33:manuseamento-de-cobras&catid=11:manutencao&Itemid=43